Flávio Bolsonaro disse à Folha que em 2026 Jair Bolsonaro só apoiará um candidato a presidente se ele prometer dar um golpe de Estado quando o STF disser que anistiar golpista é inconstitucional.
Ou seja, se Jair Bolsonaro apoiar um candidato a presidente em 2026, você já sabe: o sujeito prometeu ao Jair um golpe de Estado.
Flávio Bolsonaro não é Carluxo nem Eduardo. Não tem reputação de maluco. Disse o que disse por cálculo e disse por ordem do pai.
A entrevista à Folha foi o primeiro serviço prestado por Flávio Bolsonaro à democracia brasileira em uma vida cujos destaques até agora haviam sido um desmaio em debate, o Queiroz e uma mansão comprada com dinheiro vivo.
O que Flávio deixou claro é que, se o sujeito for apoiado por Bolsonaro, não interessa se tem verniz de moderninho ou aquela reputação de competência técnica que o sujeito adquire automaticamente assim que o mercado resolve votar nele.
Não interessa se discursa sobre “centro” ou “fim da polarização” e se os líderes religiosos milionários de sempre vão jurar que ele é um bom menino.
Ninguém é moderno, ninguém é moderado, ninguém é centrista ou bom menino se seu primeiro compromisso de campanha é soltar os caras que planejaram matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, que destruíram a praça dos Três Poderes, que tentaram roubar o voto dos eleitores pobres de Lula, que planejavam matar, censurar e prender seus adversários políticos.
Se a família Bolsonaro fosse de esquerda, a entrevista de Flávio teria sido o centro da agenda política nacional na semana passada.
Tarcísio, Caiado, Zema e Ratinho Júnior não conseguiriam abrir a boca sem que alguém lhe perguntasse se, afinal, eles vão prometer o golpe que Jair quer.
O Congresso Nacional, ao invés de aumentar a conta de luz, teria organizado uma CPI para investigar o novo plano golpista. E Flávio Bolsonaro teria sido preso em flagrante.
Não teve nada disso.
Mesmo assim, Tarcísio de Freitas ou algum dos outros três presidenciáveis de direita poderia ter vindo a público dizer que, olha, Jair, eu sou de direita, sou muito de direita, mas não vou dar golpe de Estado nenhum porque tenho vergonha na cara. Eu fingi que não vi o golpe que você tentou, Jair, eu fingi que não vi as pessoas que você matou na pandemia, Jair, mas essa linha eu não vou cruzar. Eu posso fingir que não vi seus crimes, mas não vou eu mesmo cometê-los.
Nada. Tarcísio só disse “ihuuu”.
Imaginem o que teria acontecido se, em 2018, Gleisi Hoffmann tivesse dado uma entrevista à Folha dizendo que o então candidato petista, Fernando Haddad, teria prometido a Lula que daria um golpe militar se não conseguisse anistiá-lo.
Haddad teria sido capaz de dar uma única entrevista, de participar de um único evento público, sem ser obrigado a falar no assunto?
Quantos dias passariam até que uma CPI fosse instalada? Quantas horas passariam até aparecer um mandado de prisão para Gleisi para que as próprias Forças Armadas viessem a público rechaçar a ideia?
Flávio nos contou que na agenda da família Bolsonaro o próximo golpe já está marcado para 2027. Se você vai ganhar a vida ano que vem argumentando que um aliado deles é moderado, essa é uma boa hora para pedir aumento.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Fonte: Folha de São Paulo